
Nova elevação da Selic impõe fardo ainda mais pesado à economia, afirma CNI
Aumento de meio ponto percentual na taxa de juros trará consequências negativas para emprego, renda e bem-estar da população
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual (p.p.) impõe um fardo ainda mais pesado à economia, com consequências negativas para o emprego, a renda e o bem-estar da população, afirma a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com a nova alta, a Selic chega a 14,75% ao ano (a.a.), maior patamar em quase 20 anos.
Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, a atual conjuntura exige uma postura mais prudente do Copom. “Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024”, pontua.
A CNI estima que o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer 2,3% em 2025, queda de 1,1 ponto percentual em relação ao ano passado. A indústria também deverá perder ritmo: crescimento de 2%, ante 3,3% em 2024.
“Caso a estimativa se concretize, isso representaria o menor crescimento da economia nos últimos cinco anos e está diretamente relacionado à política monetária contracionista”, completa Alban.
Segundo a CNI, ao menos quatro fatores deveriam ser considerados para evitar nova elevação da taxa de juros. O primeiro é a defasagem dos efeitos da política monetária contracionista, intensificada a partir de setembro de 2024. A materialização da alta de juros deve ser observada na totalidade a partir do segundo semestre de 2025, o que torna um novo aumento da Selic um ato precipitado, agravando a desaceleração da economia desnecessariamente.
O segundo é que, com a Selic a 14,25%, a taxa de juros real de 8,8% ao ano seria suficiente para controlar a inflação. A CNI reitera que o parâmetro já superava em 3,8 pontos percentuais a taxa de juros neutra, estimada em 5% ao ano pelo Banco Central. Vale lembrar que o Brasil tem uma das maiores taxas de juros reais do mundo, o que é mais do que adequado para atrair investimentos e controlar a inflação a partir da valorização do câmbio. Os juros altos encarecem o crédito, desestimulam investimentos e dificultam o crescimento da economia.
O terceiro fator considera a recente política comercial dos Estados Unidos. A imposição de novas tarifas de importação aumentou o risco de recessão nos EUA e enfraqueceu o dólar no mercado internacional. Somado à grande diferença de taxa de juros praticada no Brasil, o fato contribuiu para a valorização do real, que atingiu 8,2% entre dezembro de 2024 e abril de 2025, e reduz a pressão da taxa de câmbio sobre a inflação.
Os efeitos do tarifaço sobre o crescimento econômico mundial e o aumento de oferta de petróleo pela OPEP+ levaram à queda global do preço do barril, passando de US$ 75, no fim de 2024, para US$ 62, no início de maio. A redução já refletiu na queda do preço do diesel nas refinarias da Petrobras, o que tende a ter um impacto positivo sobre os custos de transporte e sobre a inflação, como um todo.
Em quarto lugar, é importante ressaltar que a forte desaceleração do impulso fiscal, observada desde o segundo semestre de 2024 e que deve se manter ao longo de 2025, também contribui para a moderação do consumo e favorece o controle da inflação.
Os quatro fatores têm levado ao arrefecimento das expectativas de inflação, espelhadas nos últimos três boletins Focus. A estimativa para 2025 caiu de 5,65% para 5,53%. Para 2026, a projeção é de inflação em 4,5%, indicando o início da trajetória de convergência para a meta estabelecida, de 3% a.a.
Juros elevados prejudicam investimentos e aumentam custos financeiros e da dívida pública
Ao ignorar o cenário e elevar novamente a Selic, o Copom desconsidera três riscos, pontua a CNI. O primeiro deles é o desestimulo ao investimento produtivo. Embora um crescimento menor ou mesmo a queda dos investimentos ajude a conter a demanda agregada e a controlar a inflação no curto prazo, leva também a um menor crescimento da oferta no médio prazo. Isso, por sua vez, pode pressionar os preços quando a demanda for retomada.
O segundo risco é o aumento dos custos financeiros sobre os custos totais das empresas, o que impacta os preços. Associada ao spread bancário extremamente alto, a taxa de juros média nas operações com pessoas jurídicas saltou de 19,4% a.a., em dezembro de 2024, para 22,8% a.a., em março de 2025.
O terceiro deles é elevação do custo da dívida pública, que amplia o déficit público e o risco fiscal. Estimativas do próprio Banco Central indicam que cada aumento de 1 ponto percentual na Selic eleva o custo da dívida bruta federal em cerca de R$ 50 bilhões. Essa dinâmica pode comprometer a sustentabilidade das contas públicas e contribuir, sob essa ótica, para instabilidade econômica. Em 2024, a dívida pública bruta alcançou 76,5% do PIB e a CNI estima que deverá atingir 79,4% do PIB ao final de 2025.
Aumento dos depósitos compulsórios e política fiscal mais racional são fundamentais
Segundo a CNI, o Banco Central deveria considerar o aumento dos depósitos compulsórios como medida adicional da política monetária, e não apenas como medida prudencial, em complemento ao uso da taxa Selic. A CNI considera que essa alternativa ajudaria a controlar a inflação, sem impacto nas despesas com juros e na trajetória da dívida pública. Além do uso desse novo instrumento, a política monetária precisa ser auxiliada por uma política fiscal mais racional, em que a pressão por aumento dos gastos públicos seja contida a partir de um pacto nacional pelo equilíbrio fiscal.
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