Por que tanta briga por Minas Gerais

Por que tanta briga por Minas Gerais

Estado é marcado por diferenças geográficas e demográficas que refletem a heterogeneidade do Brasil

As últimas eleições no Brasil têm um fato em comum: desde o fim do período militar, quem vence as eleições presidenciais em Minas Gerais se torna presidente da República. A história não esconde os fatos.

Em 1989, primeiro pleito depois do governo do general João Figueiredo, Fernando Collor (PTB) obteve 55% dos votos em Minas Gerais, contra 44% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no segundo turno. Collor foi alçado a chefe do Executivo naquele ano, mas não terminou o mandato, devido a um processo de impeachment.

Já em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito em primeiro turno, em uma vitória solidificada em Minas Gerais, com 64% dos votos, contra 21% de Lula. Quatro anos depois, o tucano venceu novamente, também em primeiro turno. Em terras mineiras, Fernando Henrique obteve 55% dos votos, contra 28% de Lula.

O século virou e Lula saiu vitorioso na disputa eleitoral de 2002, quando reverteu as derrotas em Minas Gerais. No segundo turno, foram 66%  votos, contra 33% de José Serra (PSDB). No ano de 2006, o petista voltou a vencer as eleições e liderar no Estado: no segundo turno, foram 65% dos votos, contra 34% do ex-governador de São Paulo e agora candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB).

O mesmo aconteceu com Dilma Rousseff (PT) em 2010 e em 2014 e com Jair Bolsonaro (PL), em 2018. No último pleito presidencial, Bolsonaro venceu no segundo turno, com 58% dos votos em Minas Gerais, contra 41% dos votos de Fernando Haddad (PT).

Neste ano, no primeiro turno destas eleuções, Lula saiu vitorioso em Minas Gerais, garantindo 48% contra 43% de Jair Bolsonaro. Mas o segundo turno, que ocorre neste domingo, é uma nova eleição, e cada concorrente destinou um tempo especial para a campanha em Minas Gerais.

Mas, afinal, qual é a explicação dessa coincidência? Ela irá se repetir em 2022? Para responder essas e outras perguntas, Oeste foi a campo para entender a relação entre a vitória nas terras mineiras e a conquista do Palácio do Planalto.

Minas Gerais: a ‘miniatura’ do Brasil

Vencer em Minas Gerais é importante para consolidar a vitória no restante do Brasil, devido, entre outros motivos, ao tamanho do eleitorado e à heterogeneidade da população. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Minas Gerais tem o segundo maior número de eleitores do Brasil, 16,2 milhões. Perde apenas para o Estado de São Paulo, com 34 milhões.

Para Paulo Kramer, cientista político da Fundação da Liberdade Econômica, a própria geografia mineira explica o porquê de o Estado refletir o termômetro eleitoral do Brasil.

“Analisemos a geografia mineira, por exemplo: ela tem desde traços nordestinos, mais ao norte, como características do centro-oeste e sudeste, mais ao sul do Estado”, disse a Oeste.

O norte do Estado é composto de municípios com índices de desenvolvimento humano (IDH) similares ao de cidades do Nordeste, como Jequitinhonha, que, na escala de 0 a 1, sendo que 1 é um grande índice, se encontra com 0,615, um dos piores números em todo o Brasil, segundo dados da Organização das Unidas (ONU).

Já o sudeste de Minas, contudo, possui cidades com alguns dos melhores IDHs de todo o país, como Nova Lima, que foi ‘ranqueada’ com 0,813. “Minas Gerais é um termômetro do país.”

No primeiro turno das eleições de 2022, por exemplo, a diferença entre Lula e Bolsonaro no cenário nacional foi basicamente a mesma computada entre os mineiros, cerca de 5 pontos porcentuais de diferença.

Zema vitorioso, mas Lula também

Ainda que represente uma espécie de síntese do pensamento nacional, Minas causou uma certa “confusão” entre muitos eleitores brasileiros durante o primeiro turno deste ano. Romeu Zema, atual governador do Estado pelo partido Novo, foi reeleito, mas Lula, líder da esquerda, também saiu vitorioso. O que explica essa particularidade?

“Essa é uma ótima pergunta!”, disse Kramer. “Interessante imaginar alguém que vote no Zema, que é do Novo, e, ao mesmo tempo, no Lula, do PT, não é? Acontece que o governo de Romeu Zema é muito bem avaliado entre os mineiros. Isso fez com que parte de um eleitorado mais à esquerda ‘ultrapassasse’ os ideais defendidos por Zema e votasse no petista”, completa.

Na visão de Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PL), cientista político e deputado federal por São Paulo reeleito nessas eleições, duas podem ter sido as respostas para a vitória do representante liberal e do petista. 

“É uma questão para que os institutos de pesquisa respondam”, afirmou Luiz Philippe. “Seria interessante, inclusive, investigar os dados de apuração. Assumindo que os resultados mostrados nas urnas foram todos corretos, podemos analisar que, por causa do alinhamento do Zema com o presidente Jair Bolsonaro não ter sido tão explícito no primeiro turno, uma confusão na cabeça do eleitor foi criada e levantou uma dúvida entre os votantes menos politizados: será que Lula e Zema são opções distintas?”, disse. 

O que fazer para ganhar em Minas Gerais?

Se a coincidência de ganhar em Minas e ganhar no Brasil irá continuar em 2022, ninguém sabe, mas a luta por votos no Estado está sendo travada a todo vapor pelas campanhas eleitorais de Lula e Bolsonaro.

Além de Paulo Kramer, Orleans e Bragança também corrobora a tese de que a chave para conquistar votos mineiros é o trabalho de base, entendendo as necessidades de cada eleitor em relação aos seus problemas locais. Sem avaliar os problemas que são necessidades da população do Estado, dificilmente um candidato vence em terras mineiras.

“O PT pode ter focado nisso, ou seja, mostrado para o mineiro que, para sua realidade municipal, Lula e Zema poderiam ser as melhores escolhas”, disse o deputado.

Por Revista Oeste

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