Jornais nem cogitaram responsabilizar Lula pela morte de Dorothy Stang
Imprensa e políticos de esquerda agora culpam Jair Bolsonaro por sumiço de jornalista e indigenista na Amazônia
Em 2005, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada, aos 73 anos, em Anapu (PA), com seis tiros, numa emboscada. Ela encabeçava um projeto contra o desmatamento e a grilagem de terras.
Depois do relato de uma testemunha, a polícia prendeu os pistoleiros Rayfran das Neves e Clodoaldo Batista e um intermediário chamado Amair da Cunha. A dupla de assassinos entregou dois fazendeiros: Vitalmiro de Bastos de Moura e Regivaldo Galvão.
O Tribunal do Júri de Belém condenou Rayfran a 27 anos de prisão. Em 2014, a pena progrediu para o regime domiciliar, quando ele foi preso novamente por outro crime. Clodoaldo recebeu pena de 17 anos e foi solto em 2012. Os outros três acusados foram julgados em 2006.
Amair, que contratou os pistoleiros por R$ 50 mil a mando dos fazendeiros, pegou 18 anos de prisão. E Vitalmiro e Reginaldo, a 30 anos. Vitalmiro está solto desde 2008. Reginaldo só foi preso em 2019, depois de o STF anular um habeas corpus.
À época da morte de Dorothy, Lula estava no Planalto e Marina Silva, no Meio Ambiente. A imprensa tradicional nem cogitou responsabilizar a dupla pelo crime.
Hoje, 17 anos depois, o presidente Jair Bolsonaro está sendo criticado pela mídia e por políticos de esquerda pelo desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira.
“Bolsonaro minimiza desaparecimento de jornalista e indigenista”, acusou uma emissora de TV. “Nos EUA, Bolsonaro volta a dizer que indigenista e jornalista desaparecidos estavam em ‘aventura não recomendada’ na Amazônia”, informou um jornal. “Autoridades cobram resposta do governo sobre sumiço na Amazônia”, escreveu um site.
Guilherme Boulos publicou no Twitter: “O provável assassinato de Dom e Bruno tem a digital de Jair Bolsonaro e o libera geral das milícias em todo o território nacional”. Até agora, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) não foi acusado de fake news por nenhuma agência de checagem — nem pelo inquérito do ministro Alexandre de Moraes.
Em vez disso, neste fim de semana, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou ao governo federal a adoção de “providências” para localizar os desaparecidos.
Até o momento, dois corpos foram encontrados, mas não se sabe se são do jornalista e do indigenista. A Polícia Federal (PF) apura o caso.
Desaparecimento de jornalista e indigenista
Phillips e Pereira foram vistos pela última vez no Vale do Javari, no Amazonas, na fronteira entre o Brasil e o Peru. Eles faziam um trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e Atalaia do Norte. O jornalista morava em Salvador, na Bahia, e escrevia para os jornais Washington Post, New York Times, Financial Times e The Guardian.
Nesta segunda-feira, 13, Alessandra Sampaio, mulher do jornalista, disse que os corpos haviam sido encontrados amarrados a uma árvore. A PF negou a informação.
Com reportagem de Rute Moraes / Revista Oeste