Os influentes Chiquinho e Domingos Brazão
Brazão com Eduardo Cunha: a política do Rio pode ser afetada pelas investigações da PF Foto: Reprodução / Redes Sociais
Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, mantém influência na política do Rio desde o governo Sérgio Cabral. O relatório da Polícia Federal cita nomes de políticos locais e as formas como a dupla se relaciona com o poder.
Os Brazão têm território. Em um trecho, a PF os dois com o poder de autorização ou não a entrada de candidatos em determinadas áreas. Num caso de 2010, eles levaram a uma área de milícia o então líder do MDB, deputado Eduardo Cunha, e o então presidente da Alerj, Jorge Picciani (falecido em 2021).
“Informação recebida pelo Disque-Denúncia em agosto e setembro de 2010 aponta para as relações entre a milícia de Rio das Pedras e o Clã Brazão e indica que somente aos candidatos a ele vinculados é permitido o ingresso na Comunidade para angariar votos e promover atos de campanha, […] nas quais Domingos está acompanhado de Eduardo Cunha e Jorge Picciani em alguns desses atos”, detalha a PF.
Parte do poder eleitoral dos Brazão vem do Associação de Defesa da Cidadania Ação Social Gente Solidária, instituição de caridade pela qual a família angaria votos. Em 2010, uma blitz da Justiça Eleitoral na sede da ONG constatou a troca de votos por medicamentos, receitas médicas e até cadeiras de rodas. Antes disso já havia relatos sobre compra de eleitores em prol do então vereador Chiquinho Brazão.
Os Brazão ganharam poder com a chegada de Sérgio Cabral, do PMDB, ao Palácio da Guanabara, em 2007. A troca de Cabral por Pezão, a partir de 2014, só fez bem a família. Domingos foi escolhido conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, em 2015. Além da suspeita de mandar matar Marielle, ele tem acusações de corrupção, o que não o impede de exercer o cargo.
A troca de Pezão por Wilson Witzel e, depois, por Cláudio Castro não abalou a influência dos Brazão. Castro deu a cadeira de vice para o MDB, que abriga amigos de Chiquinho e Domingos, mesmo após a saída dos dois do partido. Agora, Chiquinho está em processo de expulsão do União Brasil.
Num dos trechos do relatório, Domingos Brazão aparece numa foto ao lado de Bernardo Rossi, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Petrópolis pelo MDB e secretario de governo Castro pelo Solidariedade até março deste ano.
Outra ligação entre Castro e os Brazão é a Fundação Leão XIII, entidade estadual que executa políticas sociais. De acordo com a PF, a família Brazão loteia cargos na instituição, onde há investigação sobre desvio de recursos de contratos. O caso está no Superior Tribunal de Justiça, com o ministro Raul Araújo.
Na capital, a influência dos Brazão envolve o prefeito Eduardo Paes, ex-MDB atualmente no PSD. Chiquinho foi secretário municipal de ação social até fevereiro deste ano. A gestão Paes coloca a indicação na conta do Republicanos, partido da Igreja Universal.
“A ingerência da família Brazão se manifesta até os dias atuais junto ao enredo político fluminense, o que se potencializa pelo exercício do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do estado por Domingos. Somente com essa musculatura política é possível ter a ousadia de se fazer chegar um recado ao então ministro da Justiça e Segurança Pública ao tomar ciência que a presente investigação aportou no Superior Tribunal de Justiça por conta da menção do colaborador Ronnie”, detalha a PF noutro trecho do documento.
Chiquinho e Domingos Brazão conseguiram se manter no topo até a prisão por ordem de Alexandre de Moraes. Em setembro de 2023, após a operação Élpis, Chiquinho emplacou o delegado William Pena Júnior como subsecretário de Planejamento e Integração Operacional para tentar interceptar informações sobre investigações contra ele.
Deu certo: a operação contra ele e o irmão, no domingo (24), foi adiantada em quase uma semana para pegá-los de surpresa e evitar fugas, pois a PF descobriu que seus parentes planejavam ir para o exterior.
Pena foi policial penal no Rio de Janeiro antes de se tornar delegado. Nesse período, foi segurança de Domingos Brazão. Depois de passar no concurso, tornou chefe da Delegacia de Repressão a Organizações Criminosas da Polícia Civil, que investiga as milícias no Rio de Janeiro.
O aliado dos Brazão chegou a presidir por nove meses o departamento estadual de transporte rodoviário do RJ, órgão que cuida dos carros rebocados e das licenças para transportar passageiros. O setor é muito usado pelas milícias para lavar dinheiro.
Ao se formar na escola de polícia, Pena usou uma propriedade da família de Chiquinho e Domingos para a confraternização, segundo a PF. O delegado teve ainda sociedade com Robson Calixto, assessor de Domingos conhecido como Peixe e citado por Ronnie Lessa como um dos envolvidos na morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, na empresa RMW Consultoria.
O Bastidor