Quem são e o que pensam gays, lésbicas e trans de direita

Quem são e o que pensam gays, lésbicas e trans de direita

Eles criticam a esquerda e o movimento LGBT+, manifestam-se contra pautas de gênero e apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro

Militantes travestidos de professores universitários criaram o imaginário segundo o qual gays e outras minorias não podem ser de direita. A imprensa engajada acrescentou à fantasia que LGBTs odeiam o ex-presidente Jair Bolsonaro e políticos conservadores. Essa versão, contudo, não resiste aos fatos. O advogado Dom Lancellotti, 34 anos, por exemplo, é homossexual e comanda o grupo Gays Conservadores do Brasil. Até pouco antes da eleição, chamava-se “Gays com Bolsonaro”, inspirado no “Gays for Trump”. Hoje, já tem quase 65 mil seguidores no Instagram.

“Bolsonaro não é homofóbico nem tem qualquer tipo de preconceito contra gays”, afirmou Lancellotti, que tem fotos com o ex-presidente em suas redes sociais. “O que ele não apoia é a militância de pautas que considera ruins para a sociedade. Além disso, antes e depois da chegada dele ao Palácio do Planalto, houve uma campanha difamatória muito pesada liderada por partidos de esquerda que usaram o movimento LGBT+ para demonizar o adversário deles. E essa imagem, infelizmente, acabou ficando na cabeça.”

Lancellotti disse ainda que o movimento LGBT+ deveria se preocupar com pautas realmente relevantes para a causa, como a perseguição a gays promovida em países como Uganda, Cuba e ditaduras socialistas, além de se opor a partidos no Brasil que defendem esses regimes. Em vez disso, o ajuntamento promove pautas identitárias, como a ideologia de gênero nas escolas, explicou o líder do Gays Conservadores do Brasil. “O movimento LGBT+ está completamente perdido e não sabe o que fazer”, observou.

Influenciadores digitais

A paulista Suellen Rayanne, 24 anos, é trans e influenciadora digital. Nas redes sociais, apresenta-se como bolsonarista, conservadora e crítica de pautas que vê como “desnecessárias e prejudiciais à sociedade”. Suellen publica uma série de vídeos no TikTok e no Instagram expondo seus pensamentos sobre vários assuntos. Um dos temas que comenta é o uso de banheiros femininos por pessoas trans. Conforme Suellen, essa possibilidade abre margem para homens mal-intencionados se aproveitarem de uma mulher biológica, seja ela adulta ou menor de idade.

trans de direita
Suellen Rayanne considera-se trans de direita. Digital influencier, comenta vários temas nas redes sociais | Foto: Reprodução/Instagram

“Isso sem contar os olhares estranhos que o LGBT recebe, gerando um constrangimento desnecessário para ele e as mulheres que frequentam o local”, ponderou. “A sociedade não é obrigada a aceitar esse tipo de coisa. Defendo a criação de um terceiro banheiro.” Suellen também se manifesta contra a participação de mulheres trans no esporte feminino. “É uma invasão que precisa ser contida. As mulheres demoraram para conseguir esse espaço.”

Há poucos meses, a pauta trans tomou conta do noticiário, depois de o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) proferir um discurso no Parlamento em defesa das mulheres. Vestido com uma peruca, ele evocou o “lugar de fala” das pessoas trans para criticar o que chamou de “ocupação de espaços femininos por homens biológicos”. As declarações se tornaram alvo até de pedidos de cassação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Ao mesmo tempo, Ferreira recebeu a solidariedade de outras pessoas, entre elas, homossexuais e outras pessoas LGBT+.

É o caso do maquiador gay Cláudio Borges (conhecido nas redes sociais como Cláudio Makeup), 30 anos. Borges gravou um vídeo em defesa de Ferreira e despertou a ira da esquerda. Pouco depois, recebeu uma enxurrada de ataques no Instagram e chegou a ser ameaçado de morte por membros do movimento LGBT+, além de gente do próprio trabalho. “Fiquei horrorizado”, disse. Borges se identifica como de direita, admirador de Bolsonaro e gosta de ler livros do filósofo Olavo de Carvalho.

proibido ser hétero
Cláudio Makeup destoa do senso comum a respeito do movimento LGBT | Foto: Divulgação/Instagram

Para Borges, o grupo é “uma bolha e um sistema tirânico de pensamento único” que põe correntes em seus seguidores. “Todos têm de concordar com todos, mesmo que algo esteja errado”, constatou. “Não há divergência. Se você pensar diferente, é chamado de homofóbico, transfóbico, entre outros ‘fóbicos’. Falam sobre homofobia e que são alvos de ataques da ‘sociedade’, porém, as ameaças que recebi vieram de gente de dentro do movimento. Nunca fui atacado por pessoas de direita.” Borges diz temer que, em breve, “seja proibido ser hétero”.

Estrelas da política

Além de existirem na área do Direito e nas redes sociais, os gays de direita estão na política. A vereadora lésbica Jessicão, 30 anos, chegou à Câmara Municipal de Londrina para combater a ideologia de gênero nas escolas. “Criança tem de aprender português e matemática na escola”, constatou. Recentemente, Jessicão abraçou a luta contra o uso de banheiros femininos por pessoas trans, e também sofreu ameaças de esquerdistas e de integrantes do movimento LGBT+, em razão de suas bandeiras.

Indiferente à política até 2016, Jessicão descobriu ser de direita em meio às manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. À época, Jessicão era mototáxi e, ao levar clientes até os atos, passou a se interessar por ele. Depois disso, entrou em movimentos conservadores e não saiu mais, até que, em 2020, decidiu se lançar candidata e conseguiu uma vaga na Câmara.

Nikolas Ferreira
A vereadora Jessicão, de Londrina (PR), e o deputado federal Nikolas Ferreira (MG) | Foto: Reprodução/Instagram

“Não é porque você é homossexual que tem de ser de esquerda, ter privilégios e viver uma vida devassa”, ensinou Jessicão, casada há seis anos. “A direita representa muito mais gente, porque ela é liberdade, preservação de valores necessários para a sociedade e o verdadeiro progresso.” Jessicão disse ser necessário mais pessoas de direita na política, de modo a defender os interesses desse público, hoje escanteado das universidades, da grande mídia e do show business. “Precisamos ocupar espaços”, disse. 

A visão de Jessicão vai na linha de pensamento do ex-deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos). Conservador, ele critica o que chama de “falta de pudor” nas passeatas gays. “Não tenho orgulho nenhum de ser gay, mas também não tenho vergonha”, disse. “Penso que a minha orientação sexual não define quem sou, e sim os meus atos para com os outros.” Ele apoia ainda a ocupação de espaços por parte dos conservadores, que precisam ganhar mais visibilidade e força de ação na tomada de decisões.

O então deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos), durante discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo | Foto: Alesp

Cético quanto à mudança de postura do movimento LGBT, ele vê como “essencial” a criação de outras iniciativas que representem esse público no movimento conservador. Ele diz, contudo, que há uma barreira ser ultrapassada. “Se queremos mudanças, precisamos abrir a cabeça, e isso serve para a direita também”, observou. “O movimento de mulheres teve dificuldades para entrar no meio conservador, e isso não pode acontecer.” Fora do Legislativo depois de não conseguir a reeleição para a Assembleia Legislativa de São Paulo no ano passado, Garcia pretende prosseguir com a luta contra a ideologia de gênero na escola e outras pautas nesse sentido. “Às vezes, é preciso dar um passo para trás para, depois, saltar mais longe”, disse.

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Por Revista Oeste

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